- E foi assim que eu e Sofia começamos a namorar.
- Uma história e tanto, tenho que dizer.
- Você já ouviu algo parecido antes?
- Para ser sincera, não.
- Este é o meu medo. A forma como começamos é muito esquisita. Quem pode dizer como vai terminar? Isso me deixa com medo. Jamais pensei que teria recorrer à terapia... Sem ofensas.
- Ninguém pensa que precisará de terapia, até chegar o momento. Porém, alguns sentimentos nossos são melhor entendidos quando discutimos com alguém. Como, por exemplo, essa sua insegurança. Já ocorreu a você que é comum ter essa ansiedade na semana do casamento?
- Sim, mas poucos casais passaram pela mesma situação que nós. Quer dizer... A garota que me costumava me humilhar por diversão, mas que agora parece me amar de verdade.
- Você ainda se considera submissa?
- Sim. Por mais que ela leve minha opinião em conta, no final, a última palavra é dela.
- E isso te incomoda? Ela abusa da sua submissão?
- Não. Eu me sinto mais segura com alguém tomando as decisões por mim. Além disso, ela sempre me trata bem.
- E você a ama?
- Com todas as minhas forças.
- Então acho que encontrou sua resposta. Se vocês duas se amam, e ela te faz bem, não são as normas sociais que devem impedi-las de ficarem juntas.
- Mesmo sendo uma relação desigual?
- Deixe-me dizer uma coisa, Laura: as relações humanas tendem a ser desiguais. Em quase todo casal, uma pessoa exerce dominância sobre a outra. Por vezes financeira, por vezes sexual. No seu caso, essa diferença é mais acentuada, mas isso não significa um problema, desde que você tenha sua liberdade. Você se considera livre para desempenhar as atividades que te fazem feliz?
- Sim... Eu virei uma arquiteta de respeito, ainda jogo vôlei, tenho meus amigos e sou satisfeita sexualmente. Acho que eu evoluí nesses 8 anos de namoro.
- Fico feliz de ouvir isso. Toda evolução é acompanhada de uma descoberta. Qual foi a sua?
- Descobri que é possível ser feliz sendo submissa.
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Tenho que confessar que quando Sofia me pediu em casamento, eu não esperava por uma grande cerimônia. Em algum lugar na minha mente, havia resquícios de tempos passados, onde podíamos ser mal vistas. Porém, estávamos em 2026 e a sociedade evoluíra muito desde os meus anos de infância.
Por isso, fiquei feliz que Sofia tivesse insistido na cerimônia de casamento. Do altar, eu podia ver o sorriso no rosto da minha mãe, com seu novo namorado. Via também o meu pai, que, mesmo tendo se distanciado um pouco, ainda era o meu herói.
Via com orgulho Carlos e Jéssica, padrinhos do casamento, como não poderiam deixar de ser. Foi um casal que crescera junto com o nosso. Os dois eram exemplo de como uma relação desigual podia prosperar.
Eu sabia que, por baixo do smoking, Carlos usava o cinto de castidade, imposto por Jéssica. Sabia que apesar do total controle que tinha, Jéssica o respeitava muito, a ponto de nunca tê-lo traído. Se tudo corresse bem, eles seriam os próximos a se casarem.
Até mesmo Raquel estava lá, com seu marido. Nossa amizade crescera muito desde o dia que ela me teve aos seus pés. Apesar de saber da minha condição submissa, Raquel me respeitava e, por vezes, até brincava sobre o assunto, mas sempre com discrição e com o cuidado de estarmos a sós.
A Sra. Nicole aparecera com um namorado recente, de alguns meses. Era um homem negro e alto, muito bonito. Os dois estavam extasiados nesse dia de celebração com Sofia.
Aliás, a presença que mais me surpreendera fora também de um convidado de Sofia. Era o pai dela, que eu não via há anos. Ele agora morava em outro estado, mas conversava muito com ela por telefone. Ao final da cerimônia, ele veio me cumprimentar.
- Quem diria que a Laurinha viria a ser membro oficial da família? - Disse o Sr. Guilherme, enquanto me abraçava.
- O destino é mesmo engraçado, Guilherme.
- Por favor, me chame de Gui. Quero que saiba que pode contar comigo para o que precisar.
- Bom... Fico feliz em ouvir isso, Gui. E como anda a vida?
- Ah, você sabe. Demorou pra me acostumar com Pernambuco, mas foi para o melhor. Tenho minha própria empresa. E embora a Jéssica pegue no meu pé por não ter namorada, eu nunca estou sozinho.
O Sr. Guilherme era muitas coisas pra mim, mas mulherengo era algo que não combinava com ele. Até porque Ana já me revelara que seus gostos submissos eram similares aos meus.
Como se estivesse lendo meu pensamento, um vulto apareceu por trás de Guilherme. A Sra. Ana se inclinou para a frente e cochichou algo no ouvido e Guilherme, que o fez imediatamente enrubescer. Ela então deu uma piscada pra mim e se afastou.
Guilherme rapidamente se explicou:
- Bom, se me der licença, eu tenho uns assuntos a tratar com Ana... Se Sofia perguntar, eu fui dar um passeio e já volto.
E assim eu observei de longe enquanto Ana se afastava de mãos dadas com seu namorado. Atrás deles, a uma distância segura, Carlos os acompanhava. Os três se encaminhavam ao hotel que havíamos reservado para os convidados. Alguns costumes não mudam nunca, pensei comigo mesma.
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A cerimônia acabara e chegara a noite de núpcias. Sofia e eu finalmente tiramos o vestido pesado de casamento. Eu agora apreciava minha bela esposa despida saindo do closet.
- Como estou? - Ela perguntou.
- É a mulher mais linda que já vi em minha vida.
Não era mentira. Era difícil acreditar que aquela mulher angelical fosse minha esposa. Depois de tudo que passamos, eu conseguira conquistar o seu coração.
Se antes eu a enxergava com o preconceito de uma garota mimada, eu agora a enxergava por dentro, como ela realmente era. Uma garota pura e de bom coração, mas extremamente determinada. Ela sabia o que queria e não tinha medo de dizer. Eu também sabia o que queria. Queria tê-la pelo resto da minha vida.
Sofia se aproximou a passos lentos, ca e disse:
- De joelhos. - Sua voz era firme, mas suave. Era a voz de alguém que sabia, por experiência, que jamais receberia um não como resposta.
Obedeci-a. Ela gentilmente colocou ao redor do meu pescoço a minha nova coleira. Era uma coleira de couro preta com correntes, e uma inscrição que dizia: "Propriedade de Sofia Wagner".
Repleta de felicidade, aproveitei que estava de joelhos para me declarar:
- Agora é oficial: eu serei sua para sempre.
Para minha surpresa, Sofia também se ajoelhou e ficou na minha altura. Deu-me um beijo na boca e depois apontou para o anel de casamento na sua mão esquerda. Com um sorriso no rosto, ela disse:
- E eu também serei eternamente sua.
Tony, sem palavras para descrever. Conto sensacional e envolvente. Dá uma tristeza em saber que acabou, mas todo carnaval tem seu fim. Parabéns!!!
ResponderEliminarObrigado, amigo! Eu estava há tempos querendo escrever essa história que estava na minha cabeça. Devo publicar o próximo conto até semana que vem
EliminarAdorei a história. Ainda mais o fim surpreendente mostrando que pode haver carinho e amor em uma relação de submissão. Isto ajuda a acabar com a impressão que submissão é só sexo e putaria. Eu vivo uma relação submissão (Mas somente no sexo. Não é 24h) com amor e tesão
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